Virgínia Fonseca não passou despercebida na CPI das Bets, comissão que investiga a promoção de jogos de azar online por influenciadores digitais, na qual ela depôs como testemunha nesta terça-feira.
Vestia um moletom com o rosto da filha, segurava um copo cor-de-rosa à venda no site da própria marca e parecia pronta para mais um dia diante das câmeras em sua mansão milionária, mesmo estando no Senado Federal.
A blusa trazia a imagem de Maria Flor, queridinha do público e conhecida como Flo-Flo, acompanhada pela frase “Flo Flo Biuta”, bordão da criança que se projetou nas redes sociais da mãe. O visual se completava com a maquiagem leve, cabelo solto sem produção elaborada e óculos de grau – algo parecido com as adolescentes das comédias românticas estadunidenses dos anos 1990.
Com mais de 50 milhões de seguidores no Instagram, Virgínia fortaleceu sua presença na internet compartilhando a rotina do casamento, filhos e do dia a dia nas empresas que comanda. Recentemente, foi citada em uma reportagem da revista Piauí por aceitar contratos com casas de apostas que incluíam condições conhecidas como “cláusulas da desgraça” e a promessa de uma porcentagem do valor perdido pelos usuários como forma de pagamento.
A escolha do look para o depoimento, portanto, não foi casual. Ao estampar a filha no peito, Virgínia criou uma espécie de escudo diante do julgamento público. Reforçou a imagem de mãe e da jovem que é “gente como a gente”, em uma estratégia dissimulada de aproximação que vem sendo seu trunfo desde o início.
A roupa desviou o foco do depoimento e atenuou sua responsabilidade diante do problema, transformando o momento formal em um dia qualquer na rotina da influencer.
O auditório do Senado ficou lotado de funcionários, curiosos com a presença da influenciadora. O episódio rendeu tietagem até de um deputado da própria CPI, que interrompeu a sessão para pedir que ela gravasse um vídeo para a esposa.
E foi justamente a imagem pensada para estar ali que abriu esse espaço.
Pois imagine o contrário.
Se a influenciadora tivesse escolhido um traje sóbrio, formal, distante da personagem que construiu nas redes, a roupa criaria uma barreira entre ela e o público que a consome diariamente.
Com o moletom da filha, por outro lado, Virgínia disse, antes mesmo de verbalizar: “Não tenho nada a ver com isso. Sou aquela que vocês veem todos os dias: mãe, esposa, batalhadora. Eu protejo a minha família e não prejudicaria a sua”.
Narrativa que ganhou corpo no próprio depoimento. Ela negou ligação com a chamada “cláusula da desgraça”, afirmou alertar os seguidores sobre os riscos e admitiu que não se arrependeu das parcerias com casas de apostas.
Enquanto isso, o marido Zé Felipe assistia tranquilamente, comendo biscoitos e atendendo fãs.
A influenciadora, que atribui seu sucesso a Deus, abriu o depoimento com a frase “Deus abençoe nossa audiência, bora pra cima”. A fala, que caberia perfeitamente na abertura de um de seus stories, mostrou que, entre copo cor-de-rosa, moletom engraçadinho e inocência forjada, ela entendeu como funciona o jogo.
O bom e velho “se colar, colou”.
Que, pelo visto, ainda cola.
Terrível...não entendo como uma pessoa como essa consegue enganar tanta gente... e como você diz, a roupa ajuda, mas não deveria.
Carina, que texto necessário. A cada postagem que vejo no instagram sobre essa CPI fico com um nó na garganta, nós vivemos num circo e 50 milhões de brasileiros são enganados e infelizmente esses estelionatários com máscara de “influenciadores” seguem vivendo a vida normalmente.